O Leblon, parece, está sob ameaça. Se você acha que já viu de tudo, talvez esteja enganado: o bairro mais caro do Rio — com o metro quadrado girando na casa dos R$ 22 mil e entre os mais valorizados do país — entrou em uma polêmica contra… apartamentos pequenos com metragem em torno de 50 metros quadrados. Cuidado, são perigosos! Estas unidades compactas, aos olhos de alguns moradores do bairro, não são bem vindos, já que transações abaixo da casa dos milhões é algo inaceitável para eles. O protesto, que fique claro, não reclama sobre questões ambientais ou urbanísticas, mas somente sobre o perfil do possível morador deste tipo de imóvel.
A tendência dos apartamentos compactos que vem dominando o mercado carioca nos últimos anos não agradou nem um pouco os chamados “leblonenses típicos”. Em ato de repúdio, não pensaram duas vezes: desceram de seus prédios e espalharam faixas e placas protestando contra a “ameaça” à alma bucólica do bairro. Dizem às más línguas que até os porteiros participaram, de “livre e espontânea vontade”, nesse ato em prol da reputação do bairro. Quem não se sensibilizaria? “Vão acabar com o clima familiar, pacato, de convivência próxima”, denúncia uma moradora.
O movimento ganhou até nome não oficial: “Querem destruir o Leblon”. Se você perguntar para algum morador, pode ser que ele nem saiba do assunto. Ou vai alegar que isso é conversa de grupo de WhatsApp, daqueles moradores que têm tempo de sobra para se preocupar com o tamanho do apartamento do vizinho. Mas a Helena — sim, aquela personagem típica do Manoel Carlos, sempre desocupada, curiosa e opinativa — não perdoou. Ela, em seu dia mais ativo do mês, foi às redes e comentou sobre o “absurdo que querem fazer com o Leblon”.
Os empreendimentos em questão serão construídos nas ruas mais tradicionais do bairro. Terão, dentre outras especificações, algo entre 50 m² — metragem padrão em lançamentos da cidade, aceita em outros bairros da Zona Sul, no Centro e na Zona Norte. Os projetos são bonitos, funcionais e bem integrados à bossa da região.
O burburinho foi tanto que chegou às redes sociais onde a jornalista Lu Lacerda publica sua coluna, geralmente ligada ao cotidiano da elite carioca, e os comentários não perdoaram. Teve quem ironizasse dizendo que o novo prédio seria perfeito para abrir uma nova filial do Supermercado Guanabara no Leblon. Outros fizeram uma comparação paralela ao contraste de reivindicações “Aqui na Pavuna não se fala em outra coisa! Fizeram até protesto ontem”, “Em Rocha Miranda, o assunto é só esse. Estamos indignados”.
A repercussão foi tanta que chegou à página “Suburbanos da Depressão”, onde o responsável pelo perfil fez uma interpretação pra lá de caricata da situação. O carioca, que adora uma confusão, rapidamente colocou mais lenha na fogueira: “Helena vai pra Barra dessa vez”, comentou uma seguidora; “Olha, ontem os moradores de Irajá até ficaram sem luz em protesto”, brincou outro.