Uma brasileira foi impedida de embarcar em um cruzeiro pela Europa por falta de documentação. Mas o que mais me chamou atenção não foi o problema em si, e sim o fato de ela se autointitular influenciadora de viagens, alguém que (segundo o próprio perfil) ensina as pessoas a viajarem gastando menos. E aí vem a pergunta: como alguém pode ensinar aquilo que nem ela mesma domina?
Segundo seu próprio relato em seu Instagram, ela mora em Portugal e possui a chamada autorização de residência a CPLP, um documento destinado a cidadãos dos países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Esse título permite que ela viva legalmente em Portugal, mas não é um documento de viagem internacional. Ou seja, ele não substitui o passaporte e não autoriza o embarque para outros países europeus ou fora do Espaço Schengen (área de livre circulação que abrange 29 países europeus).
Provavelmente, o erro aconteceu porque ela acreditou que o documento de residência seria suficiente para embarcar. Mas o fato é que um cruzeiro é tratado como viagem internacional, e cada porto exige seus próprios requisitos, vistos e autorizações. O resultado? Ela foi impedida de embarcar. E o sonho, virou frustração.
O problema não é o erro. É o palco. O mais preocupante é que esse tipo de caso acontece com alguém que ocupa um lugar de fala público, com milhares de seguidores, orientando outras pessoas sobre como viajar. E quando o discurso de “faça sozinho”, “compre mais barato”, “não precisa de agência” vem de quem não domina o assunto, o resultado é esse: gente acreditando em atalhos que simplesmente não existem.
O caso dessa brasileira barrada no cruzeiro não é só uma falha individual: é um retrato de um tempo em que a ilusão da autossuficiência digital tem custado caro. E, no turismo, esse “caro” pode significar uma viagem perdida, prejuízo financeiro, ou até a impossibilidade de embarcar. No fim das contas, o caso dessa influenciadora deveria servir de alerta, não de chacota. Porque a pergunta que fica é uma só: como é que alguém que foi impedido de embarcar por falta de documentação se propõe a ensinar os outros a viajar? A resposta talvez diga muito sobre o tempo em que vivemos.