O ouro, tradicionalmente visto como um refúgio seguro, subiu cerca de 30% este ano, superando o ganho de 20% do índice de referência S&P 500. Isso se deve, em parte, ao aumento na demanda de bancos centrais, incluindo China, Turquia e Índia, que aumentaram suas reservas de ouro este ano para se diversificar em relação ao dólar americano. No entanto, alguns investidores dizem que a corrida pelo metal precioso também sugere que mercados ainda estão preocupados com a saúde da economia dos EUA, apesar das novas altas no mercado de ações.
O contrato futuro de ouro mais negociado atingiu altas repetidas este ano, marcando um novo recorde de US$ 2.687,30 nesta terça-feira (25) antes de recuar. Isso ocorre após o Federal Reserve (Fed) reduzir as taxas de juros dos Estados Unidos em 0,5 ponto. Os traders tendem a migrar para o ouro em períodos de incerteza, apostando que seu valor se manterá melhor do que outros ativos, como ações, títulos e moedas, caso a economia enfrente uma recessão.
O presidente do Fed, Jerome Powell, disse em coletiva após a reunião do banco central na semana passada que o corte significativo de meio ponto na taxa de juros foi destinado a antecipar uma fraqueza adicional no mercado de trabalho.
Alguns economistas afirmam que, mesmo após a redução, a economia ainda não está livre de perigo, destacando que a taxa de desemprego é difícil de desacelerar uma vez que começa a subir. O nível de desemprego era de 4,2% em agosto, ainda baixa pelos padrões históricos, mas acima dos 3,8% de um ano atrás.
Novos dados de confiança do consumidor nesta terça-feira indicaram que os americanos estão se sentindo pessimistas sobre a economia dos EUA e o futuro do mercado de trabalho. O índice mensal de confiança do Conference Board caiu para uma leitura abaixo do esperado de 98,7 em setembro, abaixo dos 105,6 revisados para cima em agosto.
“Há uma preocupação persistente por parte dos investidores de que talvez este corte de 50 pontos-base seja realmente um corte de crise e que haja mais fraqueza na economia dos EUA do que se pode ver agora”, disse Kristina Hooper, estrategista-chefe de mercado global da Invesco.
Essa incerteza pode ser uma vantagem para o ouro. Pesquisadores do JPMorgan Chase disseram em uma nota nesta segunda-feira (23) que esperam que o metal amarelo continue correndo em direção ao seu preço-alvo de US$ 2.850 por onça em 2025, à medida que o Fed reduz as taxas.
O banco central americano prevê mais meio ponto percentual de cortes de taxa este ano e um ponto percentual completo de flexibilização em 2025. A campanha de corte dos juros do Fed também está aumentando o apelo do ouro em relação aos títulos do Tesouro, que competem como um refúgio seguro.
O rendimento dos títulos do Tesouro dos EUA com vencimento de 10 anos estava em cerca de 3,7% às 16h (horário de Brasília) de terça-feira, abaixo dos mais de 4% de retorno que os investidores conseguiram obter há apenas alguns meses.
“Neste estágio, não há realmente nenhuma maneira de pensar sobre o ouro que não seja positivamente”, disse Will Rhind, CEO da GraniteShares.
A prata, outro metal precioso que tende a se mover em conjunto com o ouro, subiu cerca de 34% este ano, superando o metal amarelo. Certamente, os ralis na prata também tendem a refletir o otimismo de que a economia vai se acelerar novamente, já que é um material utilizado na construção de infraestrutura e em produtos como eletrônicos, joias e talheres.
A prata também é um material crucial para a transição para a energia limpa. Estrategistas do Citi escreveram em um relatório na semana passada que esperam que a demanda impulsionada por energia solar e veículos elétricos na China, juntamente com os cortes de taxa do Fed, ajudem a aumentar os preços da prata.
Novas medidas da China para reviver sua economia também têm o potencial de elevar os metais preciosos, disse Rhind. O banco central da China revelou na terça-feira um pacote de medidas que inclui o corte de sua taxa básica de empréstimo e a redução da quantidade de dinheiro que os bancos precisam manter em reserva, o que liberaria dinheiro para empréstimos.