A casa caiu para a cúpula da PM de Itaituba: a Polícia Federal deflagrou na manhã desta quinta-feira (28/11) a operação Cobiça, voltada ao combate a crimes ambientais na região do Tapajós, oeste do Pará. São cumpridos 21 mandados de busca, 4 mandados de prisão, sequestro de bens e medidas cautelares de afastamento da função pública. Agentes da Polícia Federal tiveram que usar explosivos e conter a fúria do comandante do 15º Batalhão de Polícia Militar, tenente-coronel Campos, que se rebelou contra o cumprimento de mandado de busca e apreensão, destruindo, na frente dos policiais federais, três telefones celulares de sua propriedade.
A reação do oficial da PM ocorreu quando os agentes realizavam buscas em todos os cômodos da residência. A porta de um dos quartos da residência do tenente-coronel estava fechada, sem que alguém da casa providenciasse a abertura do mesmo. Ato contínuo, agentes da PF usaram explosivos e derrubaram a porta. Nesse momento, o oficial da PM reagiu: quebrou os celulares e se negou a colaborar. Os policiais, então, deram ordem de prisão ao PM Campos. O oficial foi conduzido a um carro da Polícia Federal, juntamente com um acervo de materiais apreendidos na residência.
Na casa do comandante do Comando de Policiamento Regional X (CPR-X), coronel Pedro, foi feito o cerco do imóvel por volta de 6 da manhã. Depois de adentrarem a casa, os agentes da PF iniciaram ampla revista para busca e apreensão. Diante dos agentes, coronel Pedro se recusou a abrir a porta de um determinado cômodo, obrigando as autoridades a derrubarem o obstáculo usando explosivos. Após os procedimentos, a PF deu voz de prisão ao militar, que também foi conduzido à sede da Polícia Federal de Itaituba, juntamente com o material apreendido.
Por volta de 7 da manhã, outra equipe da Polícia Federal foi até a sede do CPR X, realizando busca e apreendendo equipamentos. Para a realização desta ação, a PF foi obrigada mais uma vez, a fazer uso de explosivos, derrubando a porta da sala do comandante da corporação. Outros materiais também foram levados das demais seções da companhia. Durante a Operação Cobiça, a PF realizou a apreensão de um veículo tipo Corolla pertencente ao Sargento Vinícius.
A suspeita é que servidores públicos participam de organização criminosa na cadeia produtiva do ouro ilegalmente. Os mandados foram cumpridos nas cidades de Santarém, Itaituba, Altamira, Rio de Janeiro e Goiânia. Foram presos preventivamente dois servidores públicos e dois empresários.
A investigação apontou que os servidores públicos investigados receberam, durante meses sucessivos, pagamentos de empresas e outras pessoas investigadas pela comercialização de ouro de terras indígenas e de àrea de reserva legal. O dinheiro seria para que os servidores públicos facilitassem ou não reprimissem os crimes ambientais cometidos pelas empresas, além de atuarem na logística e segurança do ouro ilegal.
Há fortes indícios de que o ouro comercializado pela organização criminosa provém de garimpos localizados no interior e região de entorno da Terra Indígena Munduruku. Essa é uma das terras indígenas mais devastadas pelo crime e que está, no momento, em processo de desintrusão em grande operação, também com participação da Polícia Federal.
Um dos investigados teria recebido R$ 4 mil por mês, como parte da organização criminosa, para não embaraçar o negócio ilegal; outros dividiam R$ 10 mil mensais, com a função de estar à disposição das empresas, inclusive em horários de expediente e usando carro e outros materiais de trabalho institucionais. Um dos investigados é empresário, que já havia sido condenado três vezes por tráfico de drogas, além de ter condenações por receptação, tentativa de homicídio, uso de documento falso e associação para o tráfico.
Na atual operação, os crimes investigados são lavagem de dinheiro, usurpação de bens da União e organização criminosa. A operação Cobiça surgiu a partir da operação Ganância, da Polícia Federal em Rondônia, em 2022, que investigou desvio de recursos públicos federais na prestação de serviços de UTI aérea.