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Mercado do Ouro

Itaituba. O Dirceu Sobrinho. O Banco Paulista. A BP Trading e os R$ 278 Milhões

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O Empresário de Itaituba, Dirceu Sobrinho, preso na semana passada em São Paulo, é o ponto central da investigação que apura operações ilegais milionárias no mercado do ouro. O Banco Paulista e a BP Trading aparecem como compradores de ao menos R$ 278 milhões em ouro, entre 2018 e 2019, de uma empresa suspeita de comercializar minério extraído de forma ilegal da região amazônica. As informações estão em relatórios sobre a FD Gold, do empresário Dirceu Sobrinho, anexados ao inquérito que deu origem à operação Aerogold, deflagrada pela PF na segunda (19).

A BP Trading é uma das maiores exportadoras de ouro do país e teve como fundadores executivos que já integraram a sociedade do Banco Paulista. A ação da PF foi antecipada uma vez que Sobrinho, um dos principais nomes do mercado de ouro brasileiro e presidente da Anoro (Associação Nacional do Ouro), foi preso no domingo (18) em blitz policial em São Paulo por causa do mandado de prisão aberto pela Justiça Federal de Rondônia. Sobrinho é dono do carregamento de 78 kg apreendido pela Polícia Federal em Sorocaba (SP) em maio deste ano.

Até a deflagração, a operação avançava no mapeamento da cadeia de extração e comercialização de ouro extraído de áreas protegidas -onde o garimpo é considerado ilegal- até a venda para os compradores maiores e exportadores. A investigação teve início após a PF apreender 3 kg de ouro em Porto Velho (RO). A aeronave era proveniente da cidade de Japurá, no Amazonas, onde não há liberação para extração de ouro.

Com o desenvolvimento da apuração, a PF recebeu informações que mostram que, somente entre 2018 e 2019, a empresa de Sobrinho movimentou R$ 2,1 bilhões, segundo informações fornecidas pelo Coaf. A maior parte dos valores recebidos pela empresa foram do Banco Paulista e da BP Trading, que tem como fundadores ex-dirigentes do banco. O banco e a empresa, entretanto, não foram alvos da operação.

Em nota, o banco confirmou que mantinha negócios de compra de ouro com a empresa, mas disse que seguiu todas as regras e diretrizes do Banco Central e a legislação brasileira. O banco não respondeu, no entanto, qual a relação com a BP Trading, uma das maiores exportadoras de ouro do país. A BP Trading, por sua vez, também confirmou a compra de ouro da empresa e que cumpre a legislação.

“Por isso, fez repasses à FD Gold em transações comerciais, que, conforme legislação do Banco Central, órgão regulador e fiscalizador, por se tratar de ativo financeiro, devem ser feitas com uma instituição financeira por ele autorizada”, afirma trecho da nota.

Ao longo da apuração, com base em mensagens encontradas no celular do piloto e em informações enviadas pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), a delegada Ana Paula Meirelles de Oliveira mapeou uma rede de empresas de fachada e garimpeiros responsáveis por extrair e comercializar ouro de forma ilegal. No total, todas as empresas e pessoas físicas investigadas são alvo de uma ordem de bloqueio de bens da Justiça no valor de até R$ 5,5 bilhões -montante que elas teriam movimentado no período.

A Justiça também autorizou 18 mandados de prisão, sendo duas prisões preventivas e 16 prisões temporárias, em Rondônia, Amazonas, Acre, Pará, Mato Grosso e São Paulo. Dentre os alvos de mandados de busca estão pelo menos quatro cooperativas de garimpeiros: a de Garimpeiros do Rio Madeira (Coogarima), a de Garimpeiros do Amazonas (Coogam), a de Extratores de Minério do Sul do Pará, a do Tapajos.

Segundo a PF, essas entidades servem como a outra ponta da operação, esquentando o ouro extraído de forma ilegal e lavando o dinheiro pago por ele. Foram identificados R$ 14,4 milhões pagos pela FD Gold, de Dirceu Sobrinho, a essas cooperativas –montante que a PF pede que seja bloqueado.

As cooperativas, junto com as respectivas redes de garimpeiros, extraem o ouro de regiões onde a atividade não é permitida, registram o minério como se fosse de uma lavra regular e o vendem para a empresa de Sobrinho. A investigação ainda aponta Orestes Machado, conhecido como Goiano, como o principal líder da organização criminosa, que atuava em Rondônia e no Amazonas. Era ele quem comercializava o ouro extraído pelas cooperativas para a empresa de Sobrinho, e foi também quem combinou o voo que deu origem à investigação.

“Imperioso frisar que Goiano já foi indiciado duas vezes nessa superintendência por crimes relacionados a extração de garimpo, o que demonstra a prática habitual de crimes, sendo o crime seu meio habitual de vida”, diz a delegada na representação enviada à Justiça. Segundo a PF, ele se vale de familiares como laranjas para lavar o dinheiro proveniente do garimpo ilegal e movimentou cerca de R$ 10 milhões nos últimos cinco anos.

Mensagens e ligações interceptadas mostram que Goiano tentou cancelar o transporte do ouro apreendido e que deu origem ao inquérito, avisando o piloto que os policiais o aguardavam na pista de pouso. No avião estava presente Tania Sena, sócia da Coogam, e foram encontradas partes de dragas que pertenciam a Geomário Sena, seu pai, apontado pela PF como garimpeiro e contador dessa mesma cooperativa. Juntos, os dois e a empresa receberam quase R$ 1,6 milhão da FD Gold. Eles também receberam, diz a PF, dinheiro da Coogarima, que fica em Porto Velho (RO), onde a aeronave pousou.

Segundo a PF, a cooperativa “é a que mais movimenta dinheiro de forma suspeita”, com R$ 6,2 milhões recebidos da FD Gold. Outra cooperativa, a do Tapajós, recebeu R$ 3,9 milhões da empresa de Sobrinho, e fez pagamentos para uma série dos personagens investigados, inclusive residentes de outros estados, empresas de turismo e venda de alimentos.

Procuradas, as cooperativas e seus funcionários não responderam aos contatos da reportagem. Em maio, depois que a Polícia Federal apreendeu 78 kg de ouro –de valor estimado de R$ 23 milhões– em Sorocaba, no interior de São Paulo, o empresário veio a público para confirmar que o metal pertencia de fato à sua empresa.

Na ocasião, ele defendeu que tudo tinha origem legal. “Esse ouro pertence, sim, à minha empresa”, afirmou o empresário, em vídeo enviado pela assessoria de imprensa da FD Gold. “Todo ele foi comprado sob permissão de lavra garimpeira concedida, que não pertence a área indígena, que não pertence a garimpos ilegais.”

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Jornalista responsável: Evandro Corrêa- DRT 1976