Após 11 anos sem a pororoca, o rio Araguari, no Leste do Amapá, voltou a registrar o fenômeno natural neste mês de abril. Imagens divulgadas pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) mostram a onda percorrendo parte da nova foz – a antiga desapareceu por problemas de assoreamento. Ao longo de anos, a pororoca atraiu surfistas de todo o mundo. Para especialistas, o assoreamento irreversível em 2014 foi causado pela construção de hidrelétricas no rio e de canais que foram abertos para a criação de gado bubalino na região.
O novo caminho da pororoca agora entra pelo canal do Uricurituba – que se fundiu com o Araguari, como explica Patrícia Pinha, chefe da Reserva Biológica do Lago Piratuba, localizada na margem esquerda do Araguari. “Com essas modificações, o rio perdeu uma considerável vazão no sentido da sua foz. E boa parte da vazão que ia no sentido do oceano Atlântico começou a ser desviada por esse canal, através dessa conexão, até o Bailique. E é exatamente por isso que o Bailique tem sofrido com um processo erosivo muito expressivo, muito grande, por conta dessa transposição que aconteceu entre bacias hidrográficas distintas”, disse Pinha.
O Araguari era a principal base hidrográfica do Amapá e deixou de desaguar no oceano. Assim, segundo o ICMBio, ele deixou de ser um rio de primeira ordem e passou a ser um afluente do rio Amazonas. “E a partir dessa conexão do Araguari com o Amazonas até o Bailique, a maré começou a entrar no rio Araguari não mais pelo oceano, mas sim por esse canal, pelo Uricurituba. E a maré passou a correr nos dois sentidos, tanto no sentido do oceano quanto subindo o rio no sentido de Cutias”, descreveu a chefe da unidade de conservação.