Os aeroportos de Belém e Macapá, assumidos oficialmente pela Novo Norte Aeroportos no início de maio, deverão se tornar terminais voltados à indústria. A nova concessionária – controlada pela Dix, do grupo Agemar (95%), e pela Socicam (5%) – projeta que as operações de carga, hoje quase inexistente, podem chegar a 50% do faturamento, em um prazo de dois anos.
“A ideia é desenvolver a operação logística, buscando uma integração com outros modais, para que o aeroporto sirva como base para indústrias. Belém está próximo aos Estados Unidos e à Europa, já é um ‘hub’ da região Norte, mas sua participação pode aumentar”, afirma Fábio de Aguiar, vice-presidente do conselho de administração do grupo Agemar.
No curto prazo, o grupo vê oportunidades nos setores de óleo e gás e materiais médico-hospitalares, mas há potencial para outros segmentos ligados ao agronegócio e de carga geral, diz. A ideia é construir estruturas de apoio às indústrias nos aeroportos, como pátios alfandegados, áreas de triagem e estacionamento para caminhões.
Outro objetivo da concessionária é explorar a intermodalidade dos terminais, em especial em Belém, onde há proximidade com rodovias, ferrovias e hidrovias, inclusive com o terminal portuário de Barcarena (PA). Já estão em curso algumas negociações com empresas, que, no próximo semestre, poderão gerar contratos com investimentos estimados em R$ 20 milhões, segundo Aguiar. O plano é fazer operações dedicadas, com contratos take-or-pay [em que o cliente se compromete com uma remuneração mínima, independentemente da movimentação].
O consórcio conquistou os terminais no leilão da sétima rodada de concessões aeroportuárias, realizado em agosto de 2022. O contrato foi firmado em abril e, no início de maio, foi dada a autorização ao início da concessão.Para conquistar o ativo, que foi disputado com a francesa Vinci Airports, o grupo ofereceu pagar uma outorga de R$ 125 milhões que já foi desembolsada.
Além disso, o consórcio se comprometeu com investimentos na ordem de R$ 875 milhões, ao longo do contrato de 30 anos – os projetos destinados à operação de carga, porém, não estão inclusos nesse valor e demandarão aportes adicionais. Dentro das obrigações, uma das principais intervenções será a modernização do aeroporto de Belém, afirma Wanderley Galhiego Júnior, diretor de Novos Negócios da Socicam.
“Temos que fazer a correção de algumas não conformidades, a melhoria dos espaços e a atualização da infraestrutura, em especial em Belém, já que Macapá é mais recente.”
Ao menos metade das obras obrigatórias deverão ser concentradas nos três primeiros anos, até maio de 2026, diz ele. Na parte de transporte de passageiros, o plano é ampliar os voos internacionais de Belém, também se aproveitando da proximidade com Europa e Estados Unidos, segundo o executivo da Socicam.
“O terminal pode ser um ‘hub’ para os do Centro-Oeste e mesmo do Nordeste.”
O financiamento dos investimentos será feito pelo Banco Modal, que entrou como parceiro de crédito do empreendimento. A concessão no Norte do país é o segundo contrato de operação aeroportuária que a Socicam e a Dix conquistam em parceria. As empresas já haviam levado, em consórcio, um bloco de 11 aeroportos em São Paulo, liderado pelo terminal de São José do Rio Preto.
O projeto foi arrematado em julho de 2021, em leilão do governo paulista. A previsão de investimentos neste lote é de R$ 181 milhões (em valores calculados à época da licitação). Os investimentos previstos em São Paulo também deverão ser concentrados nos próximos três anos, explica Galhiego.
“No primeiro ano da concessão, completado em abril, fizemos todas as intervenções emergenciais. Agora devemos iniciar o plano de investimentos”, diz o executivo. Segundo ele, o projeto tem se desenvolvido conforme o esperado.
“A tem apresentado uma retomada, à medida que as feiras voltam a acontecer”, afirma. Além disso, assim como no projeto no Norte do país, o grupo planeja desenvolver o transporte de carga nos terminais paulistas. Para o diretor da Socicam, a perspectiva para o mercado no longo prazo é bastante positiva.
“O mundo passa por uma mudança, com a construção de aeronaves cada vez menores. Em dez anos, o mercado regional deverá deixar de ser secundário e passará a ter uma relevância maior.”