Redes Sociais

Preconceito

A COP 30. A Jornalista da Folha. A Pauta Tendenciosa. O Preconceito Escrachado. A Layse Santos e o Desabafo

Publicado

em

A jornalista Layse Santos usou suas redes sociais esta semana para rechaçar duramente a matéria encomendada pela Folha de São Paulo, onde a jornalista Alexa Salomão cita a população de Belém e da Amazônia de forma preconceituosa. Na mesma toada da reação de Layse foi o artigo de Angela Wollstonecraft, pontuando que a jornalista paulistana, ao invés de falar, de forma isenta, sobre saneamento básico, transformou a pauta em um misto de nojo, pena e arrogância. Leia abaixo o artigo de Ângela e assista ao vídeo com o comentário da jornalista da Folha e o desabafo de Layse Santos:

Quero Reencarnar com o ego de uma jornalista branca da Folha de São Paulo

Por Angela Wollstonecraft

Alexa Salomão é uma jornalista experiente. Com décadas de carreira, MBA, pós-graduação, passagens por editorias importantes e natural da refinada Flores da Cunha (RS), ela aparentemente tem tudo para ser uma repórter crítica, precisa e bem informada. Mas bastou uma visita a Belém para que Alexa resolvesse, com seu currículo de elite e olhar paulistano afiado, decretar que a cidade “fede a bosta”.

E assim, com uma frase que tenta cheirar a denúncia, mas exala mesmo é preconceito e superioridade regional, ela transformou o que poderia ser uma pauta sobre saneamento em mais um capítulo da velha novela brasileira: o preconceito contra o Norte e o Nordeste.

O tom da matéria não surpreende. Afinal, para uma jornalista nascida no Sul e formada em centros acadêmicos do Sudeste, com carreira consolidada nos corredores acarpetados da Folha, é fácil confundir jornalismo investigativo com turismo de luxo com filtro sépia. Do alto de Higienópolis ou da Vila Mariana — bairros que concentram uma esquerda gourmet sempre pronta a discursar sobre justiça social enquanto toma vinho natural — é tentador apontar o dedo para a Amazônia com um misto de nojo, pena e arrogância.

Mas me pergunto: será que Alexa teria a mesma coragem de descrever o cheiro do Rio Pinheiros, em São Paulo, como “fedor de bosta”? Diria o mesmo sobre os arredores da Cracolândia, onde o abandono estatal escorre pelas calçadas? Faria uma matéria mostrando que a cidade mais rica do país também abriga cenas de colapso urbano incompatíveis com qualquer evento internacional de prestígio?

É claro que não. Porque, para certos olhares, o que se vê de podre em Belém é miséria — e o que fede em São Paulo é “progresso em transição”. Afinal, paulista acha cool tomar um gin tônica num rooftop à beira do esgoto a céu aberto chamado Pinheiros, porque lá o mau cheiro é camuflado com investimento, e Belém, bem… Belém ainda é “lá longe”, fora do mapa mental de quem acha que o Brasil termina no Tietê.

Não estamos aqui para esconder nossos problemas. Sim, Belém tem carências profundas em saneamento, mobilidade e infraestrutura — justamente por estar historicamente fora das prioridades do pacto federativo que beneficia, há séculos, o eixo Sul-Sudeste. A COP30 é uma oportunidade rara de visibilidade e pressão internacional para resolver problemas estruturais. É exatamente por isso que precisa ser feita aqui. Para que o mundo veja, de perto, o que há de mais urgente na crise climática: o descaso com as margens — humanas e geográficas.

Mas Alexa não quis mostrar isso. Preferiu repetir o velho clichê colonizador com verniz contemporâneo: o de que o Norte não está pronto, que o cheiro não é bom, que o Brasil de verdade mora em São Paulo — onde se respira pureza, se come em bistrôs com esgoto escondido, e se distribui opinião travestida de jornalismo.

Por isso, deixo aqui meu desejo sincero: na próxima vida, quero reencarnar com o ego de uma jornalista branca da Folha de São Paulo. Aparentemente, é o único requisito para se achar autorizada a dizer ao país o que pode ou não estar no centro do mundo.

Todos os direitos reservados © 2022 O Antagônico - .As Notícias que a grande mídia paraense não publica.
Jornalista responsável: Evandro Corrêa- DRT 1976