Gladiadores, como você deve saber, eram guerreiros que lutavam uns contra os outros ou contra animais, muitas vezes até a morte, para o entretenimento de uma plateia apaixonada pelo sangue. A prática era comum na Roma Antiga, e não só na capital: pesquisadores encontraram as mais antigas evidências do combate entre gladiadores e leões na Inglaterra, que, na época, fazia parte do Império Romano.
Os esqueletos de 82 homens foram encontrados em um sepultamento coletivo onde hoje é a cidade de York, em 2004. Todos guardam sinais de terem sido homens jovens, robustos e com várias feridas cicatrizadas. A análise do esmalte dos dentes revela que os indivíduos vinham de várias regiões distintas do Império Romano.
“Muitas vezes, temos uma imagem desses combates ocorrendo no Coliseu de Roma, mas essas descobertas mostram que esses eventos esportivos tinham um alcance bem maior, muito além do centro dos territórios romanos”, disse, em comunicado, Malin Holst, arqueóloga que participou do estudo. “Provavelmente existia um anfiteatro na York romana, mas ele ainda não foi descoberto.”
Quem era o gladiador morto pelo leão? De início, os pesquisadores não tinham certeza que os restos mortais pertenciam a gladiadores: não havia garantia que diferenciasse os corpos desses guerreiros dos de soldados ou escravizados, por exemplo. Isso mudou recentemente, quando uma nova análise revelou marcas de mordida de leão em um dos esqueletos.
O homem tinha entre 26 e 35 anos e levou uma mordida fatal na pélvis. É possível deduzir que foi esse ferimento que provocou a morte, já que os ossos não tiveram tempo de cicatrizar. As marcas são condizentes com as deixadas pelos dentes de grandes felinos, como um leão ou tigre.
“Durante anos, nosso entendimento sobre os combates de gladiadores romanos e sobre os espetáculos com animais se baseou em textos históricos e representações artísticas”, disse Tim Thompson, principal autor do estudo.
“Essa descoberta fornece a primeira evidência física direta de que tais eventos ocorreram nesse período.” A descoberta foi publicada na última quarta-feira (23) na revista científica PLOS One.
O indivíduo em questão foi decapitado após a morte, um ritual que não era incomum no Império Romano, mas as razões ainda são desconhecidas. Em geral, a incidência de decapitação m cemitérios dessa época é de cerca de 5% a 6% – mas no cemitério estudado, chamado Driffield Terrace, essa proporção é excepcionalmente grande, de 70%.
“Essa é uma descoberta extremamente empolgante pois agora podemos começar a construir uma imagem melhor de como eram esses gladiadores em vida, além de confirmar a presença de felinos grandes e, possivelmente, de outros animais exóticos, em arenas de cidades como York”, acrescenta Holst.