‘Não beijo na boca há sete anos e nunca tive tanta paz’. A afirmação é da cantora Joelma. A cantora mora entre Recife e São Paulo e tem residências nas duas cidades. Mas, quando quer descansar, prefere voltar para o interior do Pará, “no meio do mato”, como ela diz. Vestindo um casaco peludo branco com rosas vermelhas, o cabelo muito sedoso e brilhante, pele bem cuidada, sorridente e sem frescura, ela falou com simplicidade inesperada para uma artista cuja obra foi considerada Patrimônio Cultural e Imaterial do Pará, sua terra natal. A menção foi concedida no ano passado pela Assembleia Legislativa do estado paraense. O título, realmente, pode parecer meio abstrato, mas o sucesso de Joelma é bem concreto.
“Eu gosto de rio, gosto de pescar, gosto das coisas que eu fazia na infância”, afirma ela, que nasceu em Almeirim, cidade a 600 km de Belém, localizada na região do Baixo Amazonas. “Às vezes eu sou obrigada a viajar por causa dos meus filhos, que adoram ir para a Europa, para os Estados Unidos. Eu não gosto de nada disso, sou do interior, gosto de ficar quietinha”. Joelma é mãe de três filhos, Natália, 35, Yago, 29, e Yasmim, 20. Ela conta que a figura energética e debochada dos palcos não existe na vida real, é uma personagem que ela criou para superar o fato de que é, como ela mesma diz, “um toco”.
Com 1,52 m de altura, a cantora se apresenta sempre de salto e se faz parecer enorme por conta de sua presença no palco. Além de um fôlego impressionante, que qualquer um que já testou cantar e dançar ao mesmo tempo, nem que seja no chuveiro de casa, sabe a canseira que dá. Na vida pessoal, Joelma só quer saber dos dois netos que estão para nascer. Sua filha Yasmim e seu filho Yago estão esperando seus primeiros bebês para o segundo semestre deste ano. Vai ser avó pela primeira vez, e de dois, logo de cara. Mas nada de romance para ela. “Não beijo na boca há sete anos. E nunca fui tão feliz, nunca tive tanta paz na minha vida. Não quero perder isso, não. O povo tá muito doido por aí”.
Advogada – Filha de uma costureira e um garimpeiro, Joelma é a quinta de sete filhos. Quando menina, sonhava em ser advogada, nunca artista. Queria estudar, ter diploma, defender suas causas com argumentos baseados nas leis, ser, enfim, a dra. Joelma da Silva Mendes, como é seu nome de batismo. “Sempre fui apaixonada por música e por dança, mas era tudo no meu quarto, não era para ninguém nem saber. “Eu ouvia Barbra Streisand, Rod Stewart, era fã de balada”, lembra. “Mas o brega sempre foi minha paixão. O nosso brega, lá do Pará, é alegre, dançante, ali a gente já começa a amar o brega na barriga da mãe”.
Joelma recusou durante um ano os convites para cantar de um amigo de ensino médio que tocava teclado em um barzinho e gostava da voz da amiga, que vivia cantarolando pelos corredores da escola. “Ele me convidava todo santo dia, e eu dizia não, queria estudar, entrar na faculdade. Ele me venceu pelo cansaço, e foi assim que eu comecei”. Isso tudo ainda na cidadezinha onde nasceu. Tinha 19 anos e já era mãe de uma menina de 4, Natalia, que teve na adolescência.
O Início da carreira- Quando tomou gosto pela vida de cantora, o jeito foi tentar a sorte na capital, Belém, e procurar uma banda que precisasse de vocalista. Numa viagem com uma amiga, Joelma conheceu um grupo de músicos que a apresentou a uma empresária que procurava uma cantora para uma banda chamada Fazendo Arte. Fez o teste, passou, e logo tinha uma agenda lotada de shows. “A banda tocava nossos ritmos do Pará, carimbó, brega, lundum, e na época o axé também fazia muito sucesso, então a gente também tocava. Era uma banda de baile. Foi uma escola para mim”, diz. Por falar em escola, Joelma ainda tentou por muito tempo conciliar os estudos com a vida de artista, mas tinha tantas faltas que não passava de ano. No ano seguinte, se matriculava de novo, e repetia por faltas.
“Uma hora eu parei e pensei, até quando eu vou lutar com isso? Quer saber de uma coisa? Vou ser cantora agora, não tem mais jeito para mim.”
De novo, vencida pelo cansaço. Então, decidiu juntar um dinheiro para fazer um disco solo, mas no meio do caminho conheceu o produtor Ximbinha, com quem se envolveu tanto profissionalmente quanto romanticamente. E o trabalho se transformou no primeiro álbum da banda Calypso, que estourou de cara nas regiões Norte e Nordeste, em 1999.
O resto do Brasil se encantou pela Calypso e por Joelma na virada do século, em seguida vários outros lugares do mundo, especialmente Portugal, Inglaterra, Peru e alguns países do continente africano, decidiram entrar na farra que eram os shows da banda. Desde que estourou como cantora da banda Calypso, em 1999, a artista já vendeu mais de 20 milhões de álbuns. Entre 15 e 16 milhões foram discos da banda, formada por ela e seu então marido, o produtor musical Ximbinha, de quem se separou, pessoalmente e profissionalmente, em 2015. No ano seguinte, já lançou seu primeiro álbum solo, “Joelma”.
E desde então gravou mais três álbuns ao vivo e outros três EPs, os “extended plays”, um formato que fica entre o single, que seria uma única canção, e um álbum inteiro, com 10 a 12 músicas. Um EP pode ter de 3 a 6 gravações, e dura de 15 a 30 minutos. EPs costumam servir para divulgar trechos de novos trabalhos que estão por vir, apresentar gravações ao vivo de canções já lançadas ou testar um novo estilo de um artista conceituado. Todos esses trabalhos dela somam quase 5 milhões de cópias vendidas.
Nova Turnê- Comemorando 50 anos de vida e 30 de carreira, cantora inicia a turnê ‘Arraiá Isso E Calypso’, em que canta seus maiores sucessos em ritmo de arrasta-pé. “Vai ter quadrilha, vai ter um monte de figurino novo, e, principalmente, vai ter muito humor”. diz Joelma.
“Eu prometi fazer um trabalho novo, com 10 músicas inéditas. Já gravei duas. Ando em marcha lenta”, diz Joelma. “Tive Covid nove vezes, um monte de complicações, agora as pessoas têm que “Eu prometi fazer um trabalho novo, com 10 músicas inéditas. Já gravei duas. Ando em marcha lenta”, diz Joelma. “Tive Covid nove vezes, um monte de complicações, agora as pessoas têm que ter um pouco de paciência comigo. Quando ficar pronto, ficou, mas não quero me comprometer com prazo”.
Entre as duas músicas que já foram gravadas, uma foi lançada na última semana, com clipe e tudo, chamada “Só Like”, em que ela surge como uma super-heroína que se alia à banda paraense “Vingadores do Brega”. “Eu sempre quis trabalhar com eles, e foi muito divertido, gravamos a música e o clipe em Recife, no meu estúdio.”
Agora, a cantora que afirma andar em marcha lenta enfrentará dois meses de estrada com o “Arraiá Isso é Calypso”, a bordo de um motorhome. Em setembro, se apresenta no mega evento Amazônia para Sempre, ligado ao COP30, ao lado de Mariah Carey, Dona Onete, Gaby Amarantos e Zaynara, num palco flutuante em forma de vitória-régia montado no meio do rio Guamá, em Belém. Em seguida, no dia 14 do mesmo mês, participa do festival The Town, em São Paulo.