A Prefeitura de Bonito acionou o governo de Mato Grosso do Sul após registrar, de janeiro a março deste ano, 29 incidentes no hospital da cidade envolvendo turistas. O que chama a atenção é que 20 desses incidentes ocorreram na Praia da Figueira, ponto turístico que está fechado desde terça-feira (26). Dentre eles, 11 envolvem mordidas de peixes da espécie tambaqui, sendo cinco casos de amputação de dedos e os demais de sutura.
Uma das vítimas, identificada apenas como N. S. A., 61 anos, ainda está com o terceiro dedo da mão direita inchado, por conta dos 10 pontos que tentam cicatrizar a amputação da falange. O caso ocorreu no dia 17 de março, na hora do almoço. Ela e as amigas estavam na área identificada como “bar molhado”. No momento em que ela se apoiou para tirar uma selfie, foi surpreendida pela mordida do peixe.
“Só senti a fisgada. Ele ficou grudado na minha mão e depois se soltou. Lembro de ter visto meu osso e não quis mais olhar. Saí direto para o hospital”, conta.
A indignação da turista é que não houve nenhum alerta para a situação, que depois ela confirmou estar ocorrendo com frequência.
“Não tem nenhuma placa dizendo que não podia entrar na água. Não estava com a unha pintada, não tinha anel na mão. Foi do nada e não tinha nenhuma enfermeira no local para ajudar. Descobri que antes de mim tinha acontecido algo semelhante e depois os peixes voltaram a fazer duas vítimas depois”.
A vítima reclama que não contou com o suporte do empreendimento turístico. Apenas pegaram o contato dela e passaram para uma agência de seguros, que a comunicou de que iriam pagar as despesas no hospital. Mas até o momento nada foi feito.
“Fiquei indignada com a falta de preocupação deles. Esses peixes não são nativos de lá. Se já houve mais de um caso, no máximo o que tinham que fazer era tomar providências, retirar os animais de lá. É uma aberração e falta de responsabilidade, estão lidando com vidas ali. Mas parece que estão só preocupados com o dinheiro”, lamenta.
A mulher afirma que ainda não sabe se terá sequelas ou perda de movimentos, mas que a situação está impedindo-a de fazer várias atividades. “Vou entrar com processo. Eles ultrapassaram o limite. Precisam tomar uma atitude urgente. O passeio para interessados em conhecer a Praia da Figueira na baixa temporada varia de R$ 105 a R$ 119 por pessoa. O valor por criança é fixo em R$ 83.
Espécie exótica – Os tambaquis são da bacia amazônica, por isso, são considerados animais exóticos em Mato Grosso do Sul. De acordo com o biólogo do IHP (Instituto Homem Pantaneiro), Sérgio Barreto, essa espécie possui uma mandíbula muito forte. “A mordedura deles é muito forte. Os tambaquis quebram castanhas com muita facilidade, por isso, essas lesões bem graves nas vítimas. Realmente é uma ocorrência muito rara. É muito provável que ele tenha se confundido e, realmente, acabou realizando esse ataque”.
O especialista afirma que a sequência de ataques nos últimos meses deve ser analisada. “Isso pode estar relacionado, às vezes, com o aumento da temperatura, o nível de estresse dos animais, pode ser alimentação. Então, tem uma série de fatores que podem estar ocasionando esses ataques”. Sérgio também lamentou o fato de usarem ração nos atrativos turísticos. “Em uma das imagens, é possível ver que estão dando ração para os peixes. Isso causa um frenesi alimentar nesses peixes. Mas, realmente, só uma visita a campo para poder identificar esse problema”. O biólogo Diego Zoccal Garcia reforçou que se trata de um crime ambiental. “A soltura de espécie exótica fora da área natural é considerada crime ambiental”, destacou.
Ele afirma que os tambaquis atacam por querer comida. “Não sei como é a interação deles com turistas. O que pode acontecer é que os turistas estão alimentando os peixes e eles acabam atacando por querer mais. Os dentes desses peixes são molariformes, como se fossem dentes de humanos, são largos e achatados. Os tambaquis se alimentam naturalmente de sementes duras e, por isso, usam os dentes para quebrar a fruta. A mordida machuca bastante.”