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Cametá. O Novo Cangaço. O Juiz. Os Sete Envolvidos e os 434 Anos de Cadeia

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O juiz da comarca de Cametá, Marcio Campos Barroso Rebello, condenou sete envolvidos no assalto à agencia do Banco do Brasil, crime ocorrido no dia 01 de dezembro de 2020. Na ocasião, os bandidos encontraram o cofre vazio e não levaram nada. 

O assalto, um dos mais audaciosos já realizados no Pará, ficou conhecido como “Novo Cangaço”. Luis Carlos de Souza Conceição, o “Sula”, foi condenado a 57 anos e seis meses de prisão. Os demais réus Janilson Resende de Oliveira da Silva, o “Jackie Chan” Kelly Thalita Pereira da Silva, a “Thalita”,  Marcelo Victor da Encarnação da Silva, o “Amarelinho”,  Adenilson Teles Xavier, Clemilson de Oliveira Santos, o “Barbudo” e Erádio de Paula Dias Filho, o “Naldo”,  foram condenados, cada um, a pena de 62 anos e 10 meses de prisão em regime fechado. Somadas, as penas ultrapassam 434 anos de reclusão.

O bando foi condenado pelos crimes de roubo majorado pelo concurso de pessoas, pela restrição da liberdade das vítimas bem como pela destruição e rompimento de obstáculo mediante emprego de explosivo e de artefato análogos que ocasionaram perigo comum, na modalidade tentada, latrocínio consumado, associação criminosa e porte ilegal de arma de fogo de uso restrito.

Na sentença, o magistrado registrou  que o caso talvez represente o maior (em participantes e na quantidade e no grosso calibre de armas de guerra utilizadas), o mais audacioso (pelas centenas de disparos realizados na direção da Delegacia de Polícia e do Quartel da Polícia Militar, bem como pela utilização de mais de 100 pessoas como “escudo-humano” a fim de neutralizar qualquer reação da Polícia) e o mais violento (pelas centenas de disparos realizados a esmo a fim de intimidar toda uma cidade) crime cometido na história da antes pacata região do Baixo-tocantins cuja principal cidade é a histórica Cametá.

De acordo com os autos, o réu  Erádio de Paula, o “Naldo”, foi responsável pelo apoio logístico, utilizando seu sítio como ponto de apoio. Luis Carlos, vulgo “Sula”, foi responsável por levantar dados sobre a agência bancária, bem como dar apoio logístico para os demais réus, já que era residente do município de Baião, portanto, conhecedor das possíveis rotas de fuga.

Marcelo Encarnação, o “Amarelinho”, foi um dos organizadores do crime, tendo também participado diretamente na execução dos delitos, tendo atuado ainda como um dos financiadores da empreitada criminosa, cedendo o  seu veículo Toyota Yaris, bem como cooptou (ou foi cooptado) por sua irmã Kelly Thalita.A ré Kelly Pereira, a “Thalita”, namorada de “Amarelinho”, foi uma das responsáveis pelo apoio logístico e financiamento do crime.

Adenilson Xavier, vulgo “Xavier”, policial militar, foi um dos organizadores da execução do assalto levando em conta que, por ser Policial Militar, foi responsável por ter acesso ao armamento de uso restrito. 

O réu Janilson Resende,  vulgo “Jackie Chan”, foi responsável por efetuar disparos de arma de fogo, bem como restringir a liberdade dos reféns. Já Clemilson Santos, o “Barbudo”, foi responsável pela organização da tentativa de roubo, assim como participou ativamente da execução da atividade criminosa. Dos 7 envolvidos apenas 2 eram do Pará, sendo um de Cametá (Naldo) e outro de Tucuruí (PM Xavier). Os demais eram oriundos de outros estados do Brasil.

De acordo com a investigação policial, trata-se de uma sofisticada quadrilha de assaltos a banco, com ramificações em todo o país. Na tentativa de assalto ao BB de Cametá, o bando teria investido cerca de R$ 500 mil reais, deslocando para a cidade 11 pessoas, 4 veículos e 30 armas de grosso calibre.

Ainda na sentença, o juiz fez questão de enaltecer o trabalho da polícia:

“Oficie-se ao Delegado Geral da Polícia Civil do Estado do Pará com cópia da presente decisão a fim de externar o respeito, a gratidão e a admiração da sociedade paraense e em especial da população de Cametá em relação ao Delegado Antonio Carlos Pinzan Junior, Delegado Manoel Fausto Bulcão Cardoso Neto, bem como aos Investigadores Felipe Vitor Dias Castro e Valber Silva dos Santos e a todos os dignos e honrados policiais civis que trabalharam no trágico episódio do Novo Cangaço do Banco do Brasil de dezembro de 2020 com o objetivo de que sejam registrados elogios em suas folhas funcionais.”

Pontuou o juiz.

O assalto – Em janeiro de 2020, uma quadrilha formada com pelo menos 10 criminosos assaltou uma agência do Banco do Brasil no Centro de Cametá. A ação, que durou cerca de uma hora e meia, começou no fim da noite de terça-feira (1º), por volta de 23h30, e acabou no começo da madrugada de quarta-feira (2).

Os bandidos usaram moradores da cidade como escudo humano e atacaram o 32º Batalhão da Polícia Militar do Pará.Assim como havia ocorrido em Criciúma (SC) na madrugada anterior, a quadrilha atacou um quartel da Polícia Militar (PM), impedindo a saída dos policiais, e usou reféns como escudos para se locomover pelas ruas da cidade. As pessoas foram capturadas em bares, em um horário em que assistiam a um jogo de futebol. Os criminosos atiraram para cima durante mais de uma hora.

O grupo usou armas de alto calibre e explosivos. Vídeos registram que em aproximadamente 2 minutos foram ouvidos 45 tiros. Na fuga, os bandidos jogaram no rio uma caminhonete utilizada no assalto.

A agência do BB atacada, que fica no prédio da Câmara dos Vereadores de Cametá, ficou destruída. Esse crime é conhecido como “novo cangaço” ou “vapor”, que se caracteriza por ações rápidas, violentas, com muitos disparos de armas de fogo, tomada de reféns e uso de explosivos. Normalmente, são planejados em cidades de médio e pequeno porte, que tem um efetivo menor de policiais. Nas ações, os criminosos cercam os batalhões de polícia.

O Pará já registrou 51 crimes desse tipo nos últimos quatro anos, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública. Em 2020, os outros dois outros assaltos aconteceram em Ipixuna do Pará, em 30 de janeiro, e em São Domingos do Capim, em 3 de abril.

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Jornalista responsável: Evandro Corrêa- DRT 1976