Nem só de passarinhos se faz a jornada de quem percorre o Brasil a trabalho ou por hobby, atrás das mais diversas espécies de aves, já que às vezes, a natureza surpreende com outros encontros. No dia 04 de dezembro último, em uma região conhecida como Serra do Cachimbo, na Amazônia do Pará, no município de Novo Progresso, um grupo de amigos se deparou com um dos animais mais raros do planeta, a onça-preta.
Conhecida por onça-preta ou ‘pantera negra’, esse felino é na verdade uma onça-pintada melânica. A pelagem escura nesta espécie é resultado de uma mutação no gene chamado MC1R, que causa aumento na produção da eumelanina (melanina escura). Uma curiosidade é que essa é uma característica dominante, ou seja, para nascer um filhote melânico pelo menos um dos pais precisa ter pelagem escura. Mesmo assim, ainda é considerado raro os avistamentos dessas onças.
“Era o primeiro dia da viagem, de tarde, quando estávamos de carro e, de repente, vimos um vulto preto grande no meio da estrada. Foi aí que percebemos que era a onça. Descemos do carro, consegui fazer uns registros, mesmo estando bem distante”, relata o arquiteto e fotógrafo de natureza Carlos Alexandre de Souza.
Carlos estava acompanhado dos biólogos e guias Kenny Uéslei e Luis Morais e também do médico e observador de aves Marco Guedes, que é o segundo no ranking do Wikiaves com o maior número de espécies registradas no Brasil.
Cada um teve uma emoção única ao ver a onça-preta, mas para todos, foi um momento inesquecível. “Eu penso em comparar aquele momento com um moleque que adora futebol e que de repente encontra na rua o melhor jogador do time dele. A emoção é parecida! É muito bom e dá esperança pra gente nesse mundo com pessoas muito irresponsáveis, que devastam tudo. A gente estava acabando de sair de um campo de soja de cinco quilômetros ininterruptos, aonde seguramente existiu uma floresta amazônica há pouco mais de cinco, seis anos atrás. E a onça estava lá, tranquila, sem medo nenhum. Foi bastante emocionante, bastante gostoso, e só isso já paga a viagem para a gente”, relatou Marco.
Apesar dessa parte, perto da estrada, ter sido parcialmente destruída, o biólogo Luis Moraes explica que a região ainda é bem preservada.“A Serra do Cachimbo, apesar de que ali pelas bordas da BR tá bem quebrada, ainda está totalmente preservada nos interiores. É um fragmento muito grande, o que segura populações saudáveis desses bichos mais sensíveis, como predadores de topo. Esse ano vi muitas onças, mas essa foi a única preta e com certeza a maior. Chamam ela de canguçu.
De acordo com Kenny, a onça-pintada é uma espécie-guarda-chuva, porque a proteção dela acaba influenciando na proteção de todos os outros grupos de fauna e flora. Encontrar uma onça-pintada já é raro, principalmente na Amazônia, agora encontrar uma onça-preta é ainda mais incomum. A vista no Pará, segundo ele, era um adulto, provavelmente macho, de mais de 100 quilos.
“Foi um encontro sensacional e o mais engraçado foi que há poucos dias eu e o Carlos tínhamos encontrado outra preta em uma parte diferente da Amazônia. Eu falo até que foi uma questão de sorte, de estar no lugar certo na hora certa, até porque eu sou biólogo e ando na região há mais de 10 anos e assim, dá para contar nos dedos as vezes que eu que eu encontrei onça, porque é muito, muito, muito difícil de ver”, diz.