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O Agronegócio. O Grupo Green Farming Fazendas Renováveis. A Dívida de R$ 307 Milhões. O Pedido de Recuperação Judicial 

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Como se não bastasse o recente pedido de recuperação judicial da gigante AgroGalaxy (AGXY3) e do Grupo Portal Agro, de Paragominas,  o mercado financeiro acaba de levar um novo golpe nos investimentos relacionados ao agronegócio: o grupo Green Farming Fazendas Renováveis acaba de pedir para entrar também em recuperação judicial, apontando dívidas que somam R$ 307 milhões. O pedido de recuperação foi protocolado no último dia 16 de outubro e ainda não foi analisado pela Justiça. Ele vem pouco tempo depois da emissão de mais de R$ 110 milhões em Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) pelo grupo.

O maior credor da empresa é justamente a Virgo, securitizadora responsável pelas maiores emissões de CRA da Green Farming, feitas em 2022. A dívida passa de R$ 76 milhões, segundo informações do processo. Em segundo lugar, no ranking, está o Sicoob, com mais de R$ 57 milhões pendurados, seguido pelo FIDC SB Crédito, a quem a empresa deve mais de R$ 22 milhões. A lista de credores é extensa, envolvendo diversos bancos, cooperativas de crédito e FIDCs (fundos de investimento em direitos creditórios).

A crise financeira entrou em uma fase crítica, antes mesmo do pedido de recuperação, com credores tomando medidas judiciais agressivas para reaver suas dívidas. O cerco jurídico sobre a Green Farming se fecha rapidamente, ameaçando paralisar de vez as operações da empresa, segundo seus advogados. O Banco Ribeirão Preto, por exemplo, obteve uma liminar para apreender maquinários essenciais à operação da empresa, em um processo que envolve R$ 832 mil. Já o Berillo Fundo de Investimento bloqueou as contas da Green Farming, além de suas aplicações financeiras e imóveis, após uma tentativa de negociação fracassar devido às restrições judiciais em vigor.

A Cargill Agrícola também tentou apreender um pivô de irrigação, mas foi impedida pela própria empresa, que segue lutando para manter seus ativos. A situação fica ainda mais delicada com o avanço dos credores de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs). A Virgo Companhia de Securitização, que detém títulos emitidos pela Green Farming, convocou uma assembleia para discutir a rescisão dos papéis e iniciar ações de expropriação.

Além disso, mais de 25 ações judiciais já foram movidas por outros credores, incluindo grandes instituições como o Banco Itaú e o Banco Volkswagen, buscando penhorar ativos e arrestar bens. Diversos fatores contribuíram para a atual situação da Green Farming, segundo o pedido de recuperação judicial. A empresa, que atua com a recria e engorda de bovinos, diz ter sofrido com uma série de adversidades nos últimos meses.

Entre os principais problemas relatados, estão a queda dos preços dos produtos, o aumento da taxa básica de juros, a redução dos prazos de pagamento por parte dos fornecedores e, crucialmente, a interrupção de exportações para a China — um dos seus maiores mercados. Além disso, um dos principais compradores do grupo fechou temporariamente uma de suas fábricas, o que agravou ainda mais o cenário financeiro. Essas dificuldades, somadas ao aumento do preço dos insumos, colocaram a empresa em uma situação de insolvência iminente.

A recuperação judicial da Green Farming marca o segundo grande colapso financeiro no agronegócio em menos de três meses, sendo precedido pelo caso da AgroGalaxy. Empresas como essas são vistas como pilares de um setor que impulsiona boa parte da economia nacional. No entanto, a sequência de dificuldades financeiras traz à tona questões sobre a sustentabilidade financeira das operações e sobre a transparência nas demonstrações contábeis dessas companhias.

Em fevereiro deste ano, a Green Farming havia lançado um Mini-CRA de R$ 3,5 milhões, que representava 1,3% de seu faturamento anual. A emissão foi vista como um movimento estratégico para suportar a expansão da empresa e reperfilar suas dívidas. Porém, a crise de liquidez que se seguiu levou ao pedido de recuperação judicial, acendendo um alerta para o mercado de ativos alternativos e para a saúde financeira das empresas que dependem fortemente de captações.

Em recente artigo publicado no Monitor do Mercado, os advogados Beatriz Palhas Naranjo e João Eduardo Diamantino, do Diamantino Advogados Associados, apontaram que o aumento de pedidos de recuperação judicial no agronegócio em 2024, que já iguala o recorde de 82 processos no primeiro trimestre, acende um alerta para credores e investidores. Títulos como Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) e Letras de Crédito do Agronegócio (LCA) podem ser incluídos nos planos de recuperação, mas há exceções importantes, como no caso de créditos com garantias fiduciárias, que não estão sujeitos a esses processos, conforme a Lei de Recuperação Judicial.

Segundo eles, a complexidade desses mecanismos exige atenção redobrada dos investidores. Títulos específicos, como a Cédula de Produtor Rural (CPR), também possuem nuances. A CPR Física, por exemplo, é considerada um crédito extraconcursal, não sujeito à recuperação judicial, desde que cumpra certos requisitos, como a antecipação do pagamento pelo credor. Os advogados apontam que o Judiciário tem enfrentado dificuldades na interpretação das leis, o que ressalta a importância de uma análise criteriosa dos títulos para evitar prejuízos no setor agro.

O caso da Green Farming obrigatoriamente faz o investidor lembrar da AgroGalaxy (AGXY3), que abriu capital em 2021, viu suas ações despencarem 94%, caindo de R$ 9,40 para R$ 0,50, e entrou com pedido de recuperação judicial em setembro de 2024, com uma dívida de R$ 4,7 bilhões.  Apesar de o ex-CEO Axel Labur ter demonstrado otimismo em apresentação recente, feita logo antes do pedido de recuperação, alegando que a empresa estava “dentro do esperado”, a situação financeira se revelou insustentável, com inadimplência atingindo 60% da receita. Além da crise interna, investidores que compraram certificados de recebíveis do agronegócio (CRAs) da empresa agora enfrentam o risco de calote, já que a AgroGalaxy admite não ter condições de honrar suas obrigações.

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Jornalista responsável: Evandro Corrêa- DRT 1976