A maior cooperativa de extrativistas de açaí do Amapá anunciou esta semana o cancelamento da exportação de 1,5 tonelada do produto para os Estados Unidos (EUA), o que corresponde a um prejuízo R$ 480 mil. Segundo a Amazonbai, os extrativistas estão sendo afetados pelo tarifaço anunciado pelo presidente dos EUA Donald Trump sobre produtos brasileiros. A cooperativa enviava aos EUA o açaí em duas formas: como polpa congelada e processada e o liofilizado, que é o produto em pó.De acordo com dados do grupo de produtores, a polpa é exportada no valor de US$ 5 o quilo, o que equivale a R$ 27,69. O açaí em pó chega a US$ 60 o quilo, ou seja, cerca de R$ 332,25.
O envio de uma remessa de açaí em pó foi interrompido no mês de julho para os EUA, por conta da medida. A cooperativa conta com 151 extrativistas no arquipélago do Bailique, distrito de Macapá (AP), e na região da chamada “beira Amazonas”. Amiraldo Picanço, presidente da Amazonbai, explicou que açaí em pó passou a ser exportado em novembro de 2024, com uma alta demanda. ”A poupa nós iniciamos em 2023. Foi o primeiro ensaio de exportação e intensificamos no ano passado, principalmente com o açaí liofilizado, que você precisa trabalhar de uma forma bem organizada com esse produto”, disse.
Quatro remessas do produto foram enviadas desde então. A próxima remessa estava programada para este mês de julho, mas não chegou a ser realizada. A empresa deixou de enviar remessa para o mercado exterior devido ao alto valor da tarifa e agora busca por outros países parceiros, para que os negócios possam continuar. Com o novo valor, a competitividade de mercado acaba diminuindo. “Estamos chegando no final da safra do açaí do Amapá. No momento, é aguardar um posicionamento do governo brasileiro e fazer os estoques necessários, buscar mercados alternativos, principalmente mercado europeu, do norte da África e o mercado asiático [.] É o momento de intensificar os diálogos com os mercados alternativos pra gente não ficar dependendo do mercado norte-americano”, concluiu o presidente.
Teles Jr, vice-governador do estado do Amapá, explicou que comércio dos EUA é amplo no Brasil. Ele relembrou países que já passaram pelo tarifaço e destacou que é necessária a busca por novas alianças de negócios.
“A gente tem que ficar atento a esses problemas porque se nós formos aplicar reciprocidade, pode encarecer aquilo que é importado dos Estados Unidos no Brasil. Nós compramos mais de lá do que vendemos pra lá. Temos muitas coisas que no nosso dia a dia podem ser impactadas, se eventualmente o país for taxar as importações de lá pra cá. O Brasil precisa buscar aliados, é bom lembrar que no início do ano a China passou por um tarifaço, o Canadá e a União Europeia, e tudo foi se solucionando”, contou Teles.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), referentes ao ano de 2024, mostram que o açaí é um dos principais elementos para a movimentação da economia no estado do Amapá. Do fruto, foram produzidas 22 mil toneladas, com 1.760 hectares de área plantada, totalizando em R$ 65 milhões. O principal produto de consumo dos amapaenses é o açaí gerado a partir do extrativismo, que gera em torno de 500 toneladas.