Uma ação na Justiça e um laudo médico de um dirigente do futebol podem pôr em xeque a reeleição de Ednaldo Rodrigues para a presidência da Confederação Brasileira de Futebol, a CBF. Um acordo, que garantiu a reeleição do atual mandatário. formalizado com a assinatura do ex-presidente interino da entidade, o paraense Antonio Carlos Nunes, o “Coronel Nunes”, pode perder validade uma vez que o dirigente afirmou à Justiça ter problemas cognitivos.
Ednaldo ganhou novo mandato, até 2030, graças ao acerto que encerrou uma longa disputa judicial pelo comando da CBF. Esse acordo só ocorreu porque sete dirigentes do futebol aceitaram encerrar a briga na Justiça. Para tanto, eles precisaram assinar um documento homologado no Supremo Tribunal Federal, em fevereiro de 2025. Isso validou a primeira eleição de Ednaldo, em 2022, e abriu caminho para outro mandato, conquistado em março passado.
Uma das assinaturas no documento do acordo seria a do dirigente Antônio Carlos Nunes de Lima, de 86 anos, conhecido como Coronel Nunes, ex-presidente da Federação Paraense de Futebol e ex-presidente interino da CBF em dois períodos: entre dezembro de 2017 e abril de 2019; e entre junho e agosto de 2021.
Um documento de abril de 2024, ou seja, quase um ano antes do acerto na CBF, demonstra que o Coronel Nunes entrou com uma ação na Justiça contra descontos na sua aposentadoria de militar da PM. Naquela época, alegou ao juiz que ele e a mulher não tinham “saúde para procurar assistência da Defensoria Pública ou Ministério Público a fim de celebrar acordo algum” (sobre a pensão). Ou seja, o próprio dirigente alegou à Justiça, um ano antes de assinar o documento da CBF, não ter condições cognitivas para celebrar disputas judiciais de livre e espontânea vontade.
Nesse mesmo processo, o Coronel Nunes anexou um relatório médico informando que, em maio de 2023, foi internado diante de “quadros de tontura e ataxia com piora recente do déficit cognitivo”.
Ataxia “é uma condição do sistema nervoso que faz com que as pessoas percam o controle dos movimentos musculares e da coordenação”, segundo o National Institute of Neurological Disorders and Stroke, órgão do governo dos EUA.
De acordo com definições médicas, déficit cognitivo pode ter várias causas, tais como esclerose múltipla, acidente vascular cerebral e mal de Parkinson. O laudo que o Coronel Nunes anexou à ação é assinado pelo doutor Jorge Roberto Pagura, atual chefe da comissão médica da CBF.
No acordo da CBF, além do Coronel Nunes, aparecem as assinaturas dos dirigentes Castellar Neto, Fernando Sarney, Gustavo Feijó, Rogério Caboclo, de representante da Federação Mineira de Futebol e da própria Confederação Brasileira de Futebol.
O acordo em questão, que sacramentou a manutenção de Ednaldo no cargo de presidente da CBF, foi homologado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes. O magistrado vem sendo acusado de conflito de interesses porque o instituto do qual é proprietário, o IDP, mantém contrato milionário com a CBF.