Deu na FOLHA: o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), afirma que o seu partido saiu fortalecido das eleições municipais e tem condições de ocupar um papel de destaque nas eleições de 2026, tanto as estaduais como a presidencial. “O tamanho político do MDB habilita o partido para qualquer missão”, afirma à Folha, após ser questionado se o partido almejaria e estaria em condições de ocupar a vice na chapa de uma eventual candidatura de Lula (PT). Ele próprio é apontado nos bastidores como um possível nome para esse cargo. “Eu defendo, portanto, que o MDB tenha a capacidade de dialogar com as partes e entender em que projeto se vai apresentar ao Brasil, em que condição pode cooperar e colaborar. Uma coisa é fato: não dá para desconhecer o tamanho do MDB”, completa.
Helder, no entanto, afirma essa construção e o próprio posicionamento do partido daqui dois anos devem ser objeto de profunda discussão interna. Ele defende que a sigla abra primeiramente um diálogo com Lula sobre o pleito, por questão de “lealdade”, ao considerar que seus quadros integram o atual governo. O emedebista também defende que o governo federal faça uma análise do resultado das urnas e adote uma postura mais centrista e que se afaste de agendas mais ideológicas, “afeitas a grupos, a bolhas, a segmentos específicos”.
As eleições municipais evidenciaram o fortalecimento dos partidos de centro, que conquistaram o maior número de prefeituras e também as principais capitais do Brasil. O MDB foi a segunda legenda com mais prefeitos eleitos (856). Helder é apontado como um dos governadores vitoriosos no pleito encerrado no domingo (27), assim como Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo, e Ronaldo Caiado (União Brasil), de Goiás. Os três conseguiram eleger os prefeitos das capitais e ampliar o domínio em seus estados. O emedebista, aliado do Palácio do Planalto, ajudou a eleger em Belém o seu correligionário Igor Normando, em uma disputa contra o bolsonarista Éder Mauro (PL). Helder evita comentar seus objetivos para 2026. Afirma que o próximo ano será dedicado à realização da COP30 na capital paraense e que depois dará prioridade ao processo eleitoral.
“Passada a agenda da COP, em novembro do ano que vem, eu estarei obviamente iniciando esta discussão a respeito de 2026, até mesmo porque devo me desincompatibilizar no prazo legal [início de abril de 2026]. O fato é que a minha participação, no que diz respeito a 2026, será ativa, dialogando internamente no MDB para que nós possamos estar fortalecidos para a eleição”, afirma. O governador afirma que a posição do MDB em 2026 deve ser discutida internamente, lembrando que a sigla tem posições divergentes em diferentes regiões do país. No entanto, a sua posição é que o diálogo inicial seja aberto com Lula e o PT, para a discussão de uma eventual parceria eleitoral.
Ele cita um dever de lealdade, considerando que o partido tem representantes no governo Lula. Seu irmão Jader Filho é o atual ministro das Cidades. Além dele, o MDB tem Renan Filho como ministro dos Transportes e Simone Tebet no Planejamento. “O MDB deve conversar, sim, com o presidente Lula no sentido de entender aquilo que se pensa para 2026, a partir, inclusive, da candidatura do presidente à reeleição. [Discutir] qual o papel do MDB neste processo, que protagonismo o MDB deve exercer neste processo. E, claro, internalizar após esse diálogo, internalizar o que será capaz de unificar o partido”, afirma. Nas eleições de 2022, o MDB lançou à Presidência da República a então senadora e atual ministra Simone Tebet. Ela terminou na terceira colocação, com 4,16% dos votos. O partido acabou sofrendo defecções, com algumas alas liberadas então para apoiar Lula ou Jair Bolsonaro (PL).
Helder afirma que o resultado das eleições municipais deu uma demonstração da preferência do eleitor para resultados práticos em detrimento de extremismos ideológicos. E que essa tendência deve se manter para as eleições para a Presidência e governadores daqui dois anos. “Acho que é cedo para cravar isto, mas é uma sinalização importantíssima, diante do que nós vimos na última quadra de 2022, em que o que prevaleceu não foi discutir soluções para o Brasil. Foram discussões, efeito de teses as mais extremas possíveis … ao invés de discutir efetivamente um país, soluções para a saúde, para a educação, para a segurança pública, para a geração de emprego, para a sociedade”, afirma. PUBLICIDADE Ainda sob essa ótica, ele defende que o governo faça uma avaliação do resultado das eleições municipais e adote uma postura mais pragmática e voltada ao centro.
“Se faz necessário que os partidos de centro e, mais do que isso, as teses defendidas por aqueles que estão ao centro, se enxerguem nesse processo eleitoral de 2026”, afirma. Por outro lado, o governador afirma que devem evitadas pautas mais ideológicas. Ele cita o caso da agenda ambiental e diz defender a preservação, a fiscalização e a repressão a ilegalidades, mas pondera que essas ações devem ser compatíveis com a valorização da “vocação de produção do Brasil” e não apresentar a questão como se fosse incompatível “produzir e preservar ao mesmo tempo”. Ele acrescenta ainda que se deve evitar que agendas sejam “capturadas por interesses de pequenos grupos”. “O centro deve ter a capacidade de liderar as discussões daquilo que busca construir políticas públicas, que tenha um espectro de impacto na sociedade como um todo”, afirma”.