Essa reviravolta ocorreu após o voto do ministro Alexandre de Moraes, na discussão sobre o financiamento dos sindicatos. O veredito, até o momento, é de 6 a 0 em favor da contribuição, desde que essa cobrança seja estabelecida por meio de acordo ou convenção coletivos da categoria. A peculiaridade dessa contribuição está na sua compulsoriedade, porém, há um ponto crucial: os trabalhadores têm o direito de opor-se a esse desconto, que será realizado pelo empregador diretamente no comprovante de pagamento de salário e, posteriormente, repassado ao sindicato representante da categoria.
Este julgamento, que se estendeu até 11 de setembro, terá repercussões profundas na relação entre sindicatos e trabalhadores, assim como nas finanças dessas entidades. A contribuição assistencial visa financiar as atividades sindicais, mas sua implementação traz à tona um debate complexo sobre a liberdade de escolha do trabalhador em contribuir ou não. Comparando-se com o extinto imposto sindical, observamos distinções importantes. O antigo imposto era um valor fixo, equivalente a um dia de trabalho por ano, aplicado a todos os empregados, independentemente de sua vontade. A sua eliminação resultou em uma queda expressiva na arrecadação dos sindicatos, que diminuiu de R$ 2,23 bilhões em 2017 para R$ 21,4 milhões em 2021.
Neste contexto, é evidente que o debate em torno da contribuição assistencial abre novos caminhos na discussão sobre os direitos e deveres dos trabalhadores e sindicatos, moldando o futuro das relações trabalhistas no Brasil.
Imposto sindical
O debate sobre a contribuição sindical traz à tona uma complexa rede de questões políticas e jurídicas, que influenciam diretamente a dinâmica trabalhista e sindical no Brasil. A história recente desse imposto sindical demonstra uma oscilação significativa entre as obrigações do trabalhador e a autonomia sindical. Em 2017, o Congresso Nacional tomou a decisão de extinguir o imposto sindical com a aprovação da reforma trabalhista do governo Temer. Essa medida transferiu o ônus da contribuição para o trabalhador, que passou a ter o poder de autorizar ou recusar o desconto em seu salário.
A mudança de nome, de imposto para contribuição assistencial, pode parecer benevolente, mas seu impacto é claro: mais recursos retirados do trabalhador em favor dos sindicatos. O STF recentemente deliberou que, se o trabalhador não se opuser formalmente à cobrança, o desconto será efetuado automaticamente em sua folha de pagamento. Do ponto de vista jurídico, a decisão do STF é coerente com as premissas adotadas, mas reflete o grau de indeterminação inerente aos textos legais. Havia argumentos válidos tanto a favor quanto contra essa decisão, e o tribunal buscou equilibrar essas perspectivas. No entanto, sob o viés político, surge um debate essencial sobre a prerrogativa do Poder Legislativo, ou seja, o Congresso Nacional. Alguns questionam se o STF não deveria ter demonstrado uma maior deferência à escolha política, feita pelos representantes eleitos pelo povo, que possuem a legitimidade democrática para tomar essa decisão.
Em última análise, a decisão do STF terá implicações significativas nas relações trabalhistas do país. O modo como cada entidade sindical atuará, tanto em relação a seus associados quanto a todos os trabalhadores que poderiam ser beneficiados por suas atividades, desempenhará um papel fundamental na moldagem do cenário sindical e trabalhista do Brasil. O xadrez político e jurídico em torno dessa questão permanecerá em constante evolução à medida que essa decisão for implementada e seus efeitos forem sentidos.