Investigações da Polícia Civil indicam que as apostas em lutas clandestinas entre crianças e adolescentes custavam R$ 50. As “rinhas” aconteciam em Boa Vista e tinham até uma adolescente, de 13 anos, entre os “prêmios”. O esquema foi alvo da Operação Final Fight, deflagrada nessa quarta-feira (25), que prendeu dois suspeitos de promover os “confrontos”. Os valores das lutas não eram tabelados, mas as apostas custavam, em média, R$ 50. As investigações ainda apontaram que haviam lutas nos valores de R$ 30 e R$ 100, estabelecidos de acordo com a luta, dia e até a plateia, segundo o delegado Leonardo Strunz, adjunto da Delegacia de Defesa da Infância e da Juventude (DDIJ), unidade responsável pelas investigações.
Nessas brigas também tinham uma aposta de valores e também existiam crimes conexos, como exploração sexual, estupro de vulnerável e outros crimes. Havia comercialização através de apostas, envolvendo valores para quem ganhava. Inclusive, também tinha um ‘prêmio’ de uma adolescente de 13 anos para quem ganhasse”, explicou o delegado. De acordo com o delegado, a menina de 13 anos foi ofertada como ‘prêmio’ em pelo menos uma das lutas. Ela foi encontrada na casa de um dos investigados, um jovem de 20 anos, durante a operação nessa quarta-feira.
“Ela chegou a ser oferecida como ‘prêmio’ de uma das lutas ali. Quem ganhasse [a luta] ia ganhar aquela adolescente de 13 anos de idade”, afirmou Leonardo Strunz. A polícia identificou que o suspeito mantinha um relacionamento com a adolescente, o que se classifica como violência sexual. Ele foi preso em flagrante por estupro e a adolescente foi entregue à mãe. As vítimas envolvidas nas lutas tinham entre 12 e 17 anos. Elas eram cooptadas por meio das redes sociais e de forma presencial na região onde os “combates” aconteciam, no bairro Dr. Airton Rocha, popularmente conhecido como Pérola.
Segundo o delegado, os adultos se “aproveitavam da condição de vulnerabilidade de crianças e de adolescentes para praticar esses crimes”. As investigações iniciaram após a DDIJ identificar páginas nas redes sociais criadas para divulgar as lutas e atrair as vítimas para festas ilegais. As brigas aconteciam em praças públicas de Boa Vista, em áreas com quadra esportiva. Nas redes sociais, os vídeos das lutas clandestinas acumulavam mais de 135 mil visualizações e “alto volume de comentários e compartilhamentos”. Os adolescentes usavam luvas de boxe durante as brigas.
“A gente identificou uma adolescente que ficou ferida no braço, ficou um tempo parada ali por conta da luta, até não pôde mais lutar, mas a gente atuou antes que o pior acontecesse. A gente atuou para que nenhuma criança, nenhuma adolescente morresse, não ficasse paraplégico. A gente evitou que isso acontecesse. Esse foi o papel da Polícia Civil”, ressaltou Leonardo Strunz.
Operação Final Fight – A Polícia Civil também cumpriu mandados de busca e apreensão na casa dos suspeitos, localizada no bairro Pérola. As ordens judiciais foram executadas por agentes da Seção de Investigação e Operações (Siop) da DDIJ, com apoio do Grupo Tático Municipal (GTAM) da Guarda Civil Municipal. Durante as buscas, celulares e dispositivos de armazenamento foram apreendidos.
O material deve passar por perícia e revelar novas evidências, suspeitos e crimes conexos. A operação recebeu o nome Final Fight em alusão ao clássico jogo eletrônico dos anos 1990, sobre brigas de rua, remetendo simbolicamente à intenção de pôr a prática que vinha ganhando espaço na capital.