O Antagônico relembra hoje “Plantão de Polícia” série de televisão brasileira produzida e exibida pela Rede Globo semanalmente entre 1979 e 1981: em 1979 às sextas-feiras e entre 1980 e 1981 às quintas-feiras. A série foi um dos maiores sucessos da TV Globo. O seriado mostrava as aventuras de um jornalista, Waldomiro Pena,( Hugo Carvana), encarregado por seu jornal de cobrir as ocorrências policiais. Waldomiro Pena foi inspirado no repórter Octávio Ribeiro, mais conhecido como Pena Branca.
Parodiando a série americana Baretta, Waldomiro também tem um pássaro de estimação com quem conversa. Waldomiro é um workaholic, vive para o trabalho e ama o que faz. É um idealista e muitas vezes se envolve com os casos com acompanha. Sem formação universitária e de envolvimento emocional com a notícia, estava em conflito constante com o editor Serra, ( Marcos Paulo), contratado para mudar a imagem do jornal. Waldomiro Pena era o último representante de uma espécie em extinção: o jornalista autodidata, que arrancava suas pautas do contato com situações perigosas e da frequência a lugares suspeitos, onde ele se misturava a figuras do submundo.
Na redação ainda trabalhavam a repórter jovem e rica Bebel ( Denise Bandeira- fascinada pelo jornalismo policial e pela figura de Waldomiro, com quem se alia e passa a atuar), o fotógrafo Bezerra, ( Lutero Luis) e o motorista Washington, (Procópio Mariano). Em abril de 1980, o programa ganha mais dois personagens: o fotógrafo Gatto,( Julio Braga) e a repórter Gisela, (Lucinha Lins), filha do dono do jornal e namorada de Serra. Outros personagens da série são o office-boy Superboy ( José Prata), a telefonista Marlene, (Sílvia Chameki),Olívia, mãe de Bebel, ( Célia Biar), o jornaleiro Garcia,( Juan Danil), Mãe Dora, esposa de Washington,( Zeni Pereira), a garçonete Iolanda, ( Eliana Araújo) e o porteiro Dagoberto, (Carlos Durval).
Serra, preocupa-se apenas com a “cara” do jornal e irrita-se frequentemente com o romantismo que Waldomiro demonstra ao escrever seus textos, sempre muito bons. Serra quer um texto imparcial, sem demonstrar opinião, apenas se atendo aos fatos. Waldomiro tenta por seu ponto de vista ao material que escreve. Entre os dois está Bebel, garota bem nascida e fã incondicional de Waldomiro. Ela se torna colega de trabalho e de aventuras de Waldomiro, se metendo em situações arriscadas.
O enredo permaneceu igual até 1981, quando Waldomiro se demite e vai trabalhar como free-lancer, se dedicando a reportagens mais complexas e investigativas. A ambientação passa da redação do jornal para um bar. A série de 1979, substituiu Malu Mulher na grade das quintas-feiras da TV Globo. Malu Mulher seria transferido para as segundas-feiras. A série ficou no ar até 22 de outubro de 1981.
A proposta inicial dos idealizadores de ‘Plantão de Polícia’ era fazer um seriado tipicamente policial. Mas, ao se definir que o protagonista seria um jornalista e não um policial, ficou claro que o programa ganharia mais força se concentrasse seu foco no aspecto humano. Aguinaldo Silva, que estreou em televisão escrevendo ‘Plantão de Polícia’, foi decisivo na consolidação dessa abordagem. Com uma experiência de quase 20 anos como repórter, boa parte deles na editoria de polícia, o autor ajudou a imprimir ao texto do seriado uma forte carga realista. Outra figura importante foi Haroldo Machado, repórter de polícia de O Globo, que, eventualmente, prestava assessoria aos autores.
Segundo Antônio Carlos Fontoura, um dos autores e diretores de ‘Plantão de Polícia’, o personagem Waldomiro Pena foi inspirado em Amado Ribeiro e Octávio Ribeiro – mais conhecido como Pena Branca –, lendários repórteres policiais dos anos 1960 e 1970. Outra fonte de inspiração foi Antônio Maria, que, no jornal Última Hora, assinou durante anos a coluna Romance Policial de Copacabana, na qual transformava pequenas ocorrências cotidianas relatadas nas páginas policiais em crônicas de grande riqueza humana e literária.
Por conta do seu trabalho e seu temperamento, Waldomiro Pena era um homem solitário, sem mulher, filhos ou família. À parte os colegas de trabalho, quando se via intrigado com um caso mais enigmático, o repórter só dividia seus pensamentos com um passarinho que criava em uma gaiola de seu apartamento, no Bairro de Fátima, no Centro do Rio de Janeiro. Segundo Denise Bandeira, essa excentricidade do jornalista seria uma homenagem do roteirista Leopoldo Serran ao seriado policial Baretta, sucesso na tela da TV Globo na década de 1970. O detetive Tony Baretta (Robert Blake), costumava conversar sobre os crimes que investigava com uma cacatua, chamada Fred.
Hugo Carvana conta que a composição do personagem foi um exercício natural, para um ator que aprendeu no Teatro de Arena de São Paulo, na década de 1960, a voltar seu olhar para o homem comum, do povo, com seus cacoetes e imperfeições. Por sugestão de Daniel Filho, o ator também conversou com vários repórteres policiais do jornal O Globo e, junto com a colega Denise Bandeira, acompanhou coberturas de batidas policiais, cobriu plantões em delegacias e visitou hospitais e postos do Instituto Médico Legal.
Em 1977, Hugo Carvana interpretou um jornalista chamado Fausto Pena no filme Tenda dos Milagres, de Nelson Pereira dos Santos. Segundo o ator, esse personagem tinha um espírito irreverente semelhante ao do repórter de ‘Plantão de Polícia’.
‘Plantão de Polícia’ foi exibido em diversos países, como Alemanha, Angola, Argentina, Estados Unidos, França, Guatemala, Portugal e Suíça. O seriado teve alguns dos seus episódios exibidos em 1982 na Semana da TV Brasileira, no National Film Theatre, em Londres, com o nome de Police Beat. Naquele ano, o Canal 4, da BBC, passou a incluir produções da TV Globo em sua programação. Em 1990, o seriado foi reapresentado em abril de 1990, no Festival 25 Anos.