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Reginaldo Rossi. O Rei do Brega. As Dívidas de Jogo. O Vício em Cigarro. A Falência. O Câncer e a Morte

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Reginaldo Rodrigues dos Santos, mais conhecido como Reginaldo Rossi, o Rei do Brega do Brasil, que vendeu milhões de discos, chegou a tocar na banda de Roberto Carlos e também se aventurou na política, sendo candidato a vereador e deputado federal. Reginaldo morreu pobre e endividado em Recife, no dia 20 de dezembro de 2013.  

No dia 9 de dezembro de 2013, Rossi passou por um procedimento chamado toracocentese, que retirou dois litros de líquido acumulados entre a pleura e o pulmão. O resultado da biopsia, divulgado dois dias depois, confirmou o diagnóstico de câncer. Reginaldo, que bebia muito e era fumante inveterado, morreu na manhã do dia 20 de dezembro de 2013, aos 70 anos, de falência de múltiplos órgãos, decorrente de um câncer de pulmão detectado dias antes. Oito meses após sua morte, sua viúva, Celeide Neve, morreu de infarto, aos 67 anos, também no Recife, em 15 de agosto de 2014.

O único filho do cantor, Roberto Rossi, é motorista de uber no Rio de Janeiro. Ele revelou em entrevista que o pai morreu sem dinheiro, após ter se endividado pelo vício em jogos. “Quando meu pai faleceu, eu e minha mãe buscamos nas contas, mas não tinha nada, nada, nada”, contou. Por conta das dívidas do cantor os familiares não tiveram dinheiro para pagar o enterro. “A gente ganhou o jazigo e todo o funeral”, revelou o filho.

Roberto disse que tentou administrar o dinheiro do pai, mas Reginaldo não teria deixado. “Ele era muito centralizador… Eu tentei durante uma época, mas não tinha como”, afirmou frisando que o pai tinha terrenos em Itamaracá, mas perdeu muitos bens nas cartas. “Ele era um péssimo administrador e um engenheiro frustrado”, disse Roberto em menção ao curso de engenharia civil que Reginaldo Rossi começou a cursar, mas não concluiu.

Atualmente, a casa onde Reginaldo Rossi morava está abandonada, já que o filho não tem dinheiro para arcar com os custos de sua manutenção. Ele só consegue pagar a segurança eletrônica do local, que, segundo ele, já foi invadido algumas vezes.

Seu corpo foi sepultado no Cemitério Morada da Paz em Paulista, Região Metropolitana do Recife, ao som de “Recife, Minha Cidade”, música que compôs em homenagem à sua terra natal.

Carreira política – Na política, Reginaldo foi candidato a vereador do município de Jaboatão dos Guararapes em 2008. Obteve 717 votos, ficando como o 119º mais votado. Filiado ao Partido Democrático Trabalhista (PDT), Reginaldo tentou se eleger novamente, dessa vez para deputado estadual, nas eleições de 2010. Novamente não teve êxito: conseguiu 14 934 votos e ficou na 93ª colocação no pleito.

Trajetória- Reginaldo nasceu no Recife, capital de Pernambuco, em 14 de fevereiro de 1943. Foi estudante de graduação em engenharia civil por quatro anos e ensinava física e matemática. Com influência de Elvis Presley e dos Beatles, começou a carreira artística cantando rock e foi crooner em boates. Seu nome artístico usa o sobrenome de sua avó.

Reginaldo Iniciou sua carreira artística em 1964, comandando o grupo de rock The Silver Jets, depois integrando-se à Jovem Guarda. No início, abria shows de Roberto Carlos. Rossi lançou muitos álbuns durante sua carreira, sendo os três primeiros no estilo da época, o rock da Jovem Guarda: O Pão (1966), Festa dos Pães (1967) e O Quente (1968). Na década de 1970 Rossi se afastou do rock com o trabalho “À Procura de Você”, que o iniciou no gênero brega-romântico. Gravou sete álbuns durante esse período, quase todos pela gravadora CBS, quando grandes nomes da Jovem Guarda gravavam suas canções.

Em 1972 lançou “Mon Amour, Meu Bem, Ma Femme” seu maior sucesso até então. Nessa mesma década lançou outros hits como: Desterro e Pedaço De Mau Caminho. A década de 1980 começou com o sucesso do álbum “A Volta”, que trouxe as canções “Volta, Amor, Amor, Amor” e “Recife”, quando Reginaldo Rossi ganhou seu primeiro disco de ouro, com mais de 100 000 cópias vendidas. Em 1982 lançou “A Raposa e as Uvas”, “Feito De Amor” (L’Ultima Cosa) e “A Volta”.

Nos anos 1980, Reginaldo já era um sucesso nacional e não só nas regiões Norte e Nordeste, mas ainda não tinha um sucesso que alcançasse todo o país. Em 1987, lançou um de seus maiores sucessos: Garçom. Com ela, o artista alcançou a marca de dois milhões de cópias vendidas. De 1990 até 1995, o cantor não lançou discos novos. Em 1998, foi a vez do CD Reginaldo Rossi ao Vivo, com sucessos como A Raposa e as Uvas e Mon Amour, meu Bem, ma Femme.

Um ano depois, o CD Reginaldo Rossi the King teve a contribuição de convidados como Wanderléa, Erasmo Carlos, Golden Boys, Roberta Miranda, além da banda Planet Hemp. O disco vendeu um milhão de cópias. Em fins da década de 1990 houve um ressurgimento de Reginaldo Rossi no sul do país, provocando relançamento de seus discos em CD. O cantor e compositor passou a ser visto como cult e assinou contrato com a gravadora Sony.

Em 2010 Reginaldo Rossi gravou seu último CD, o Cabaret do Rossi, em que fez questão de revisitar seus grandes sucessos e enfatizar o estilo brega. Sua última aparição pública foi na gravação do DVD da banda Calypso, em agosto. Porém, os dois últimos shows do cantor foram nos dias 21 e 22 de novembro no Manhattan Café Teatro, no Recife. Leia abaixo o texto do jornalista Tiago Barbosa, publicado em homenagem ao Rei do Brega, no jornal Diário de Pernambuco:

A cadeira está vazia. A conta, encerrada. O copo, emborcado e saudoso do dono. O uísque com Coca-Cola repousa no passado. O garçom continua atento às lamúrias, a todas as confissões. Mas o silêncio prevalece. A voz do ídolo se calou. Reginaldo Rossi morreu. E a dor, tão cantada por ele em paixões, desamores, traições, abandonos e lamentos, agora serve à tristeza pela partida súbita do ídolo.

Pobre, de origem humilde, dono de uma cabeleira bem brasileira, Reginaldo Rossi reunia todos os aspectos desprezados por uma indústria do show businness ávida por sinais de perfeição. O sucesso conquistado de forma gradativa, no entanto, demoliu prováveis empecilhos à trajetória artística.

A performance no palco, as brincadeiras, músicas e referências sexuais sem pudores pavimentaram o apreço de públicos e artistas de gêneros musicais distintos. Querido do rock ao sertanejo, do forró ao mangue beat, ele arrastou da cozinha para a sala de estar o brega apedrejado publicamente, mas vivenciado às escuras nas noites, nos bares, na rotina por vezes indescritível. Sobre o palco, desfiou as metades da alma humana. As dores mais renegadas da traição, da desilusão, da saudade e da paixão bandida. Os sabores mais desejados dos amores, das conquistas, da beleza e da vida. Ignorou recortes e costumes. Quebrou barreiras sociais e econômicas. Entrelaçou ricos e pobres, mulheres e homens em torno de letras e composições. Foi o homem de chinelo no pé, na mansão ou no barraco.

Passeou por sentidos e sensações. Exaltou o Recife, encantou Itamaracá, decifrou a raposa, seduziu mon amour. O mundo visto e o sonegado, nas linguagens cabíveis ao sentimento. Universalizou a boemia, democratizou a roedeira, embaralhou dores e amores. Nas brechas do preconceito, inverteu o rótulo de brega e se fez porta-voz de um gênero marginalizado por cantar o que todos vivem. Abriu a camisa e as mentes, exibiu os pelos e as contradições entre gosto e discriminação, dispensou a meia dos sapatos e desnudou um Brasil doido para se ver e mostrar.

Foi rei da simplicidade. Descartou a intelectualidade da língua, preteriu construções rebuscadas, desprezou o afago à crítica. Falou o idioma do plebeu. Em inglês, francês, árabe, japonês, errado, torto e certo. Necessário. Tomou emprestadas expressões do cidadão comum, deu vida aos dilemas das massas, tornou poesias as desventuras de qualquer coração. Fez-se cara, história e sentimento do povo.

Mas os óculos escuros, parceiros de toda sorte, estão órfãos. No balcão, sobra o vazio. Palco e microfone se enchem de ausência, da partida sem hora para voltar. Os fãs, chifrados pela morte, encaram o gole amargo da despedida. E nem adianta lamentar. Rossi pediu a conta da vida. E, com muita saudade, todos nós vamos pagar.

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Jornalista responsável: Evandro Corrêa- DRT 1976