O Antagônico relembra hoje a trajetória da atriz Sandra Bréa, considerada símbolo sexual do país nas décadas de 1970 e 1980 e que morreu vitimada pela Aids. A atriz ficou famosa não apenas pelos seus muitos trabalhos, mas também por ter assumido publicamente, em agosto de 1993, que foi contaminada pelo vírus do HIV, lutando contra a discriminação. Contudo, a atriz faleceu vítima de câncer de pulmão, sete anos mais tarde. Outras tragédias ocorreram na trajetória de Sandra Bréa, antes e após sua morte.
Em 6 de setembro de 1996, Sandra foi operada no hospital Samaritano, no Rio, para retirada das trompas, útero e ovários. Desde que assumiu sua sorologia, Sandra Bréa se afastou de tudo e de todos. Em dezembro de 1999, seus médicos detectaram um tumor maligno no pulmão em estágio avançado e lhe deram seis meses de vida. No mês seguinte, foi internada e submetida a uma biópsia. A proposta foi de um tratamento à base de quimioterapia e radioterapia. Sandra recusou. Em 1987 sua mãe, Aurora, cometeu suicídio. Em 2001, o filho adotivo de Sandra Bréa, Alexandre, desapareceu e foi dado como morto.
No final de abril de 2000, já praticamente sem voz, com muitas dores, insuficiência respiratória e febre, a atriz concordou em receber um oncologista. Em 2 de maio de 2000, ela foi levada ao Hospital Barra D’or para fazer uma tomografia computadorizada. Não soube o resultado, pois morreu dois dias depois em sua casa, em Jacarepaguá. Foi sepultada no Cemitério São João Batista, em Botafogo. Após 15 anos, seus restos mortais foram exumados e encontram-se no cemitério à espera de um jazigo, como revelou Welson Rocha no seu canal “Meu Brasil de Histórias” no You Tube. “Não morrerei de Aids”, dizia. “Vou morrer como qualquer um, atropelada”.
De 1972 até 1975, Sandra Bréa foi casada com Eduardo Espínolla Netto, de quem se divorciou. Sandra também teve outros dois maridos, o fotógrafo Antonio Guerreiro (1981-1983) e o empresário gaúcho Arthur Guarisse (1983). Ela deixou um filho adotivo, Alexandre Bréa Brito, com quem alegadamente estava brigada à época de sua morte. Alexandre desapareceu no ano seguinte e em 2019 foi dado como morto pela justiça.
“Estou surpreso por não ter amigos conhecidos aqui”.
Esta foi a reação do comediante Miéle, quando chegou ao enterro da amiga Sandra Bréa, no cemitério João Batista, em Botafogo (zona sul do Rio de Janeiro). O enterro e o velório de Sandra surpreenderam por não ter nenhum famoso. As cerimônias reuniram cerca de 40 pessoas. Apenas os comediantes Miéle e Lúcio Mauro, e o ator Tadeu Aguiar compareceram.
O comediante Miéle, que apresentou um programa ao lado de Sandra no início dos anos 80, foi o que mais demonstrou espanto com a falta de colegas. “Não entendo. Eu fiquei 14 anos sem vê-la e estou aqui hoje”, disse. “Existem poucas atrizes tão completas como Sandra era. O Brasil perdeu muito com sua morte”, lembrou o amigo Miéle. O veterano humorista Lúcio Mauro foi o que mais se abalou durante o enterro. O humorista não conseguiu acompanhar o caixão até o local onde o corpo foi enterrado.
Lúcio ficou sabendo da morte da amiga durante as gravações do programa “Zorra Total”. Os diretores da atração pediram que Lúcio fizesse uma homenagem a atriz. O discurso improvisado de Lúcio entrará no ar no final do programa de hoje. “Pessoas jovens não deviam morrer. Fizemos muitos programas juntos. Ela era sensacional”, afirmou Lúcio. O humorista do “Zorra Total” também estranhou a ausência de famosos, mas foi mais discreto ao comentar. “As pessoas às vezes são ocupadas. Mas amigo é amigo. Eu estranhei mesmo não ter colegas aqui”, completou.
Carreira – Sandra Bréa Brito era filha de Aurora Santorra e de um oficial da Força Aérea americana. Iniciou sua carreira aos treze anos de idade, como modelo. Aos quatorze, ela seguiu para o teatro de revista do Rio, onde estrelou Poeira de Ipanema. Como atriz estreou, em 1968, na peça Plaza Suite, tendo sido escolhida para o papel pelo diretor João Bittencourt e pela atriz Fernanda Montenegro. Contratada por Moacyr Deriquém, foi trabalhar na Rede Globo, estreando na telenovela Assim na Terra Como no Céu, em 1970. Em 1972, o diretor Daniel Filho convidou-a para interpretar Telma, personagem da telenovela O Bem Amado, de Dias Gomes, seu primeiro grande papel.
Em seguida, atuou em Os Ossos do Barão e Corrida do Ouro, Escalada, O Pulo do Gato, Memórias de Amor, Elas por Elas, Sabor de Mel, Ti Ti Ti, Bambolê, Pacto de Sangue, Gente Fina e Felicidade. Com exceção de Sabor de Mel, feita na Rede Bandeirantes, todas as demais foram feitas na Rede Globo. Logo que estreou na televisão, Sandra Bréa começou a fazer não apenas novelas, mas também shows, como Faça Humor, Não Faça Guerra, onde conheceu Luís Carlos Miele, que veio a ser seu parceiro em uma série de apresentações que misturavam canto, dança e humor, principalmente no programa Sandra e Miele, apresentado pela Rede Globo a partir de 1976, tornando-se um grande sucesso de crítica e de audiência.
Muito bonita, Sandra Bréa foi um dos principais símbolos sexuais do Brasil, principalmente na década de 1970, tendo posado nua diversas vezes para as revistas como Status e Playboy, entre outras. Sua beleza também rendeu convites para filmes eróticos (como Sedução; Cassy Jones, o Magnífico Sedutor; Herança dos devassos, Um uísque antes, um cigarro depois e Os Mansos) e pornochanchadas.
Seus primeiros nus foram feitos ainda na década de 1970, em pleno regime militar, quando esse tipo de coisa era bem menos comum. Em julho de 1987, é acusada de disparar quatro tiros contra um motorista. O incidente foi contornado e divulgado como apenas um mal entendido e sua mãe, Aurora, suicida-se. Em 9 de janeiro de 1998, fez uma participação especial no último capítulo da telenovela Zazá, de Lauro César Muniz, exibida pela Rede Globo, onde diz uma mensagem às vítimas da Aids.